quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Talvez

Queria sempre ser feliz como as pessoas ao seu redor eram, ou aparentavam ser. Todos sempre com sorriso na cara, olhos brilhando e a aparência de que haviam ganhado na mega-sena dia apos dia, mas com ele não era assim. Mantinha a mesma cara de sempre, de desconfiança misturada com a tristeza no olhar, cabisbaixo, olhar vago e sem esperanças. Não havia o que lhe confortasse. Quando algo bom aparecia em sua vida, logo em seguida vinha uma noticia ruim para acabar com a paz do garoto. Não era possível que um rapaz de 19 anos conseguisse manter tanta amargura em seu peito e ainda assim agüentasse viver e demonstrar a todos que nada acontecia.
Quando estava sozinho, vivia encolhido abraçado a um travesseiro, encarando o teto como se fosse seu arquiinimigo, tentando achar uma resposta para tanta melancolia. Na rua, era apenas mais um na multidão. Poucos davam importância, e os que davam não reparavam. Nunca foi um homem que chamasse atenção de todos sem se esforçar para isso. Todavia, não se preocupava com o descaso de terceiros, apenas queria um futuro tranqüilo e diferente de tudo que já passou. Olhava fotos de conhecidos e amigos e não conseguia entender como conseguiam tantos motivos para sorrir, como ainda mantinham brincadeiras que foram deixadas de lado ha anos... Talvez, na verdade, todos fossem como ele. Todos, quando sozinhos em seus quartos, ficavam encolhidos em suas camas, com seus travesseiros envoltos por seus braços, encarando o teto e refletindo sobre a vida, enquanto na rua, todos fossem felizes apenas como uma forma de não demonstrar o que realmente sentiam.
Esse pensamento o deixava mais tranqüilo, mas não acabava com o gosto amargo da tristeza. Talvez isso seja o preço de crescer e amadurecer, deixar a criança que existe dentro de cada um para trás - não por opção, mas é que somos forçados a isso em um determinado período da vida. Não é possível que ele seja a única pessoa que passe por isso constantemente, sem tréguas. Talvez isso seja seu fardo, talvez não. Talvez, após alguns anos, ele olhe para trás e veja que sua vida é pior que o momento que ele passa, ou ria por ter se deixado abater por motivos insignificantes, ou até mesmo cresça ainda mais por ter tido de passar por isso um dia.
A previsão não é seu forte, porém, o tempo irá dizer o que lhe espera.

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