segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O vicio

O stress, a rotina e o cansaço estavam acabando com aquele rapaz. Coisas estranhas aconteciam com aquele jovem de apenas 19 anos, como vontades repentinas de fumar um cigarro, mesmo sem nunca tragar um cigarro, mas tentava se segurar para não se entregar ao vicio. A única forma de escapar do cigarro era viciar-se em café, mesmo odiando bebidas quentes. Melhor o estômago que o pulmão, pensava consigo.

Há tempos não dormia noites inteiras, e quando conseguia, ficava tao cansado quanto se estivesse virado a noite. O teto era seu único amigo, o único que o escutava sem o julgar, encarando em silêncio. Em meio às conversas com o teto, a necessidade de um cigarro era ainda maior. Sentia-se um viciado sem mesmo ser fumante dependente da nicotina. Talvez o fumo passivo esteja cansado de ser apenas passivo e tornar-se ativo. As vezes que fumou não foram tão agradáveis, o gosto ruim na boca no dia seguinte não valiam a pena, além de presenciar casos na família que não lhe traziam boas lembranças.

Lembrava do passado, de como a vida era mais fácil, de como as responsabilidades eram singulares, de como o tempo era apenas medido pelo relógio e não era escasso. Sentia-se só e o cigarro talvez fosse a tentativa de ter algo para lhe fazer companhia. Vivia sozinho de saudade. Sentia saudade de ter saudade de alguém. E esse alguém, cadê?

Vivia em frente ao seu notebook (substituto da máquina de escrever esquecida em sua casa em São Paulo), escrevia seus textos mas o cigarro lhe fazia falta. Não sabia o porquê dessa dependência daquele objeto branco que só lhe poderia oferecer dias a menos de vida. Talvez seja isso que quer. Viver pra que, se a saudade não lhe é presente.

Amava uma garota - loira, um pouco mais baixa que ele, mesmos gostos musicais e mesmo estilo, que o deixava nervoso sempre que se aproximava - mas ela não sabia. Eram aqueles amores à primeira vista, que não existem com tanta freqüência nos dias de hoje. Seguia tímido a tortura do amor não correspondido. Sua única fonte de alegria era mostrar-lhe novas músicas ou conversar sobre elas e conseguir retirar um sorriso dela. Sabia que aquele sorriso era apenas pra ele. Disso ele sentia saudades nas noites chuvosas de sábado em que o teto esperava seu papo chato e ele apenas conseguia olhá-lo, deitar sua cabeça em seu travesseiro e dormir, sem que o cigarro pudesse atormentá-lo.

Ela era o seu único estimulo para que ele acordasse todas as manhãs para trabalhar o dia todo e ir para a faculdade todas as noites para vê-la. A saudade já não era tão escassa em seu peito, mas há tempos não sabia o que era o contato físico e com isso a carencia aumentava ainda mais.

A carência é sua fiel companheira, o cigarro tenta conquistá-lo dia após dia e o teto e o notebook são seu ombro amigo. Segue cansado do abstrato, mas caminha em frente por sentir vontade de buscar um futuro melhor,ou menos pior que viver a vida na ilusão.

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