Desde sempre ouve Demônios da Garoa, por recordar seus avós e sua infância, infância que não viveu, mas que as musicas criavam em sua mente. “Saudosa Maloca”, “Trem das Onze”, “Samba do Arnesto” e “Tiro ao Álvaro” o deixavam numa paz interior inalcançável em momento algum. Por saber que seu avô materno apreciava tais musicas, fora absorvendo seu gosto e produzindo uma infância platônica, em que ouvia junto ao avô, Adoniran cantando musicas clássicas do samba paulista.
Parecia que entrava em alfa ao escutar tais musicas. As lembranças de seu avô brotavam em sua mente em milésimos de segundo, a cena mudava, e ele voltava aos seus cinco anos de idade, sentado na escada da casa de seus avós, olhando os carros passarem e caçoando dos vizinhos, sua avó gritando que o almoço já estava pronto e esperando sua opinião sobre a comida, resposta que mesmo sem provar a comida já estava na ponta da língua, os afáveis abraços que apenas sua avó proporcionava…
Saudosa casa, saudosa companhia, saudosa vida que um dia teve, mas não pode aproveitar muito bem, pelo pouco tempo que passou ao lado dos entes queridos e pela distância de 4h de viagem de carro, da cidade que habita, à São Paulo e hoje, para amenizar a saudade e a desventura de não ter aproveitado como devia, cria uma infância platônica, misturando a realidade com ficção. Não tem de quê reclamar, apenas da falta de sorte de não ter nascido alguns anos antes e talvez ter vivido a infância produzida ao escutar musicas apreciadas pelo avô.
Nenhum comentário:
Postar um comentário