sábado, 16 de agosto de 2008

Platônico como sempre

Era seu primeiro dia e tinha que esperar o ônibus durante longos minutos. No ponto, não conhecia ninguém, apenas presumia que quem por lá estava também pegaria o mesmo ônibus que ele. Torcia para que algum conhecido aparecesse e sua aflição desaparecesse, mas pelo contrário, cada vez mais desconhecidos chegavam e faziam aumentar seu receio de perder ou pegar o ônibus errado.
Mesmo com 19 anos, brincava consigo mesmo de joguinhos dignos de crianças, para que o tempo passasse mais rápido, como qual a cor do próximo carro que por ele irá passar e etc, e dessa vez não foi diferente, apostava consigo mesmo que toda mulher que lhe chamava atenção iria sentar nos banquinhos da praça onde espera o ônibus. Não foi feliz em todas as vezes e quando desistiu dessa bobagem, apareceu uma mulher, aparentemente com a mesma idade que a dele, loira, carinha de boneca. Lindíssima! Como havia se dado mal nas outras vezes, logo pensou que ela passaria por ele e seguiria seu caminho, mas inesperadamente sentou-se nos bancos ao lado e colocou sua bolsa no colo. A alegria e o alívio sem razão ocuparam o lugar da angústia que se encontrava em seu peito.
Ao entrar no ônibus, teve que procurar durante longos segundos um lugar para se sentar e por sorte havia uma vaga do lado de um velho conhecido. A conversa foi colocada em dia, porém seus olhos não desviavam dela, mas pegou no sono rapidamente por conta do cansaço. Acordou logo no fim da viagem, na hora certa de vê-la sair um ponto antes que ele. Entusiasmou-se ao presumir que veria na volta e esperariam novamente o ônibus no mesmo ponto.

A volta foi semelhante à ida e nas semanas seguintes também. Angustiava-se por não conseguir trocar uma palavra que não foi um singelo oi com ela. Desde sempre entusiasmava-se com mulheres que lhe chamavam atenção, sem haver distinção de beleza, o amor platônico sempre tinha que ser levado em conta pois, era inevitável. Passou semanas apenas idealizando a forma que conseguiria conversar decentemente com ela. Ensaiava ao conversar sozinho, enquanto esperava a porta do recinto em que trabalha ser aberta por alguém, conversas que poderiam ter, sem ter medo do ridículo, de alguém chegar e vê-lo quase que contracenando sozinho em meio ao 4° andar de um prédio repleto de escritórios.

Numa sexta-feira qualquer, por volta das 22 horas – hora em que espera o ônibus para voltar pra casa – somente ele se encontra no ponto e as esperanças de revê-la são escassas. Minutos passam, pessoas chegam e desiste de encontrá-la. Começa a puxar papo com terceiros e quando percebe ela está ao seu lado. Profere um “oi” tímido, ela responde com normalidade e começaram a conversar descontraidamente. Dias atrás havia escutado um comentário dela sobre uma banda, que coincidentemente ele está preparando um material publicitário para um show que acontecerá daqui uns meses. Comentou sobre isso, já prevendo sua reação. Foi o ponto crucial para que conversassem durante 1 hora aproximadamente, o tempo da volta. Seu medo maior era que o papo acabasse, tivessem que sentar em suas poltronas e dormir como todos fazem ao entrar no ônibus. De fato, certas vezes o papo acabou mas era retomado logo em seguida por algum comentário de ambas as partes, mais da parte dele como é de se esperar. Quando ela saiu, um perguntou o nome do outro, porém ele já sabia seu nome, mas perguntou pra dar continuidade à conversa e terminando-a com um comentário daqueles que você se envergonha após dizer por conta do nervosismo.

O sorriso era difícil de controlar e só percebeu que estava conversando alto demais após olhar para seu redor e perceber que haviam pessoas que o encaravam com cara de sono, e perceber que quem conversava por perto mantinha o tom de voz inferior ao deles. Não é nada que possa atrapalhar aquele momento, que talvez seja o início de mais uma paixão platônica, como todas as outras que ele já teve e sentia falta do sofrimento.



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